Divórcio e o Testamento: Como um testamento pode influenciar a partilha de bens no caso de divórcio

O divórcio é um marco que reorganiza a vida de um casal, especialmente na divisão de tudo o que construíram juntos. Mas e se um testamento, escrito antes ou durante o casamento, aparecer no meio desse processo? No Brasil, as leis do divórcio e da herança, organizadas no Código Civil, podem se misturar de um jeito que nem sempre é óbvio. Para quem não está familiarizado com o mundo jurídico, entender como um testamento afeta o divórcio pode parecer um desafio. Neste artigo, vamos explicar esse tema de forma simples, com exemplos do cotidiano, mostrando como um testamento pode mudar a partilha de bens e o que fazer para evitar confusões.

O que é um testamento no contexto jurídico

Um testamento é um documento em que uma pessoa decide quem vai ficar com seus bens depois que ela morrer. No Brasil, você pode escrever um testamento no cartório ou até em casa, com testemunhas, mas só pode dar livremente metade do que tem — a outra metade é garantida por lei para os chamados “herdeiros necessários”, como filhos ou o cônjuge. Vamos imaginar Carla e Marcos, casados há 15 anos. Em 2018, Carla fez um testamento deixando uma casa na praia para sua sobrinha, Laura, sem contar a Marcos.

No divórcio, esse testamento não mexe diretamente na divisão dos bens enquanto os dois estão vivos. Mas, se Carla morrer antes de o divórcio sair, o testamento entra em jogo, afetando o que Marcos e os filhos podem receber. É como um plano para o futuro que pode esbarrar no presente do divórcio.

Quando o testamento entra no divórcio

O testamento só influencia o divórcio se uma das partes morrer antes ou durante o processo, porque ele é sobre herança, não sobre a partilha viva. Carla pede o divórcio de Marcos em 2024, mas, antes da decisão final, sofre um infarto e falece. Como o divórcio não estava concluído, Marcos ainda é o cônjuge legal na data da morte. O testamento de Carla, dando a casa na praia a Laura, vai valer, mas Marcos pode herdar algo como viúvo, dependendo do que sobrar.

Outro caso: Juliana e Rafael estão em divórcio há meses. Rafael fez um testamento em 2020, deixando R$ 150 mil para um amigo, Paulo. Se o divórcio terminar antes de Rafael morrer, Juliana não entra na herança, e o testamento segue para Paulo e os filhos. O timing do divórcio decide como o testamento pesa.

Como o regime de bens interage com o testamento

O regime de bens — como comunhão parcial, separação total ou comunhão universal — define o que é partilhado no divórcio e como o testamento atua na herança. Carla e Marcos, na comunhão parcial, têm um apartamento (R$ 500 mil) comprado juntos e uma poupança de Marcos (R$ 300 mil) de antes do casamento. No divórcio, o apartamento é dividido meio a meio, mas a poupança fica com Marcos. Se Carla morrer antes, o testamento dá a casa na praia (R$ 400 mil) a Laura, e Marcos herda metade do apartamento como meeiro, mais uma parte como viúvo.

Na separação total, Juliana não herdaria nada de Rafael após o divórcio, e o testamento para Paulo valeria sem interferência. Na comunhão universal, tudo seria do casal, e o testamento só mexeria na metade livre de Rafael. O regime é a base que o testamento segue ou desafia.

Herdeiros necessários e os limites do testamento

No Brasil, filhos, cônjuges e, na falta deles, pais são “herdeiros necessários”, com direito a metade dos bens de quem morreu. Carla e Marcos têm um filho, Lucas, de 12 anos. O testamento de Carla dá a casa na praia a Laura, mas, se ela morrer antes do divórcio, Lucas e Marcos pegam metade do patrimônio dela — como R$ 200 mil da casa —, e Laura fica com os outros R$ 200 mil. O testamento não pode tirar esse direito de Lucas.

Se o divórcio já tivesse saído, Marcos não seria herdeiro, e Lucas levaria metade sozinho, com Laura pegando o resto. O testamento decide apenas a “parte disponível”, respeitando a lei que protege os herdeiros principais.

Testamento escrito antes do divórcio

Um testamento antigo pode trazer surpresas se não for atualizado. Juliana e Rafael casaram em 2015, e Rafael fez um testamento em 2017, deixando R$ 150 mil para Paulo. Em 2024, Juliana pede o divórcio, mas Rafael morre antes do fim. Como ainda são casados legalmente, Juliana herda junto com os filhos, Clara, de 8 anos, apesar do testamento. Paulo fica com os R$ 150 mil, e o resto (digamos, R$ 300 mil de investimentos) vai para Juliana e Clara.

Se Rafael tivesse revogado o testamento antes, Juliana poderia não entrar na herança caso o divórcio saísse. Testamentos antigos valem até serem mudados ou o divórcio cortar os laços de cônjuge.

Testamento feito durante o divórcio

Fazer um testamento no meio do divórcio pode ser uma tentativa de mudar o jogo. Marcos, vendo o pedido de Carla em 2024, faz um testamento novo, deixando um terreno (R$ 250 mil) para seu primo, André, e nada para Carla. Se ele morrer antes da sentença, Carla ainda herda como viúva, mas só da parte que a lei garante — metade do que é de Marcos, menos o terreno para André.

Juliana, durante o divórcio de Rafael, poderia fazer um testamento deixando tudo para Clara, excluindo Rafael. Se ela morresse antes, Rafael herdaria menos como cônjuge. Um testamento novo reflete a intenção atual, mas não apaga os direitos legais enquanto o divórcio não sai.

Efeito do divórcio concluído no testamento

Com o divórcio finalizado, o testamento não beneficia mais o ex-cônjuge. Carla e Marcos assinam o divórcio em 2024, dividindo o apartamento. O testamento de Carla, de 2018, dizia que Marcos receberia R$ 100 mil, mas, após o divórcio, ele sai da herança. A casa na praia vai para Laura, e Lucas herda o resto como filho.

Rafael, divorciado de Juliana em 2023, mantém o testamento para Paulo. Juliana não entra mais, e Clara herda como filha. O divórcio corta o vínculo de herança para o ex, mas o testamento segue valendo para outros beneficiários.

Como o testamento influencia os bens no divórcio

O testamento não mexe na partilha viva do divórcio, só na herança. Carla e Marcos dividem o apartamento (R$ 500 mil) meio a meio em 2024, e a poupança (R$ 300 mil) fica com Marcos, pois é dele de antes. O testamento de Carla para Laura só valeria se ela morresse, dando a casa na praia à sobrinha. A partilha do divórcio é independente do que o testamento planeja.

Juliana e Rafael dividem um carro (R$ 80 mil) no divórcio — R$ 40 mil cada. O testamento de Rafael para Paulo só entra na morte, não no divórcio. O testamento é um plano futuro, enquanto o divórcio lida com o presente.

Planejamento para harmonizar testamento e divórcio

Um bom planejamento evita problemas entre testamento e divórcio. Marcos poderia alterar o testamento em 2024, tirando Carla e dando o terreno a Lucas e André, sabendo da separação. Isso evitaria Carla herdar se ele morresse antes. Juliana faz um testamento novo após o divórcio, deixando tudo para Clara, protegendo a filha.

Consultar um advogado é chave. Carla e Marcos poderiam acertar no divórcio que testamentos antigos não valem para o ex-cônjuge, trazendo clareza. Planejar os dois juntos — divórcio e testamento — reduz conflitos com herdeiros e ex-parceiros.

Alterando ou revogando o testamento após o divórcio

Após o divórcio, ajustar o testamento é comum. Carla, divorciada, revoga o testamento de 2018 e faz um novo em 2025, dando a casa na praia a Lucas e R$ 50 mil a Laura. Marcos fica fora, e a partilha do divórcio (o apartamento) não muda. Rafael, após o divórcio, muda o testamento para Clara herdar tudo, excluindo Juliana e Paulo.

Revogar é fácil: Carla vai ao cartório e anula o antigo, ou o novo substitui. Isso atualiza os desejos pós-divórcio, garantindo que os bens sigam para quem ela quer, sem laços com o passado matrimonial.

Perguntas e Respostas

1. Um testamento muda a partilha do divórcio?
Não, ele só afeta a herança se alguém morrer, não a divisão viva dos bens.

2. Meu ex herda se eu morrer durante o divórcio?
Sim, se o divórcio não saiu, ele é cônjuge legal e herda, menos o que o testamento der a outros.

3. Posso fazer um testamento no meio do divórcio?
Sim, você pode mudar ou criar um a qualquer hora, ajustando quem herda.

4. Meus filhos perdem algo com o testamento?
Não, eles têm direito a metade dos bens como herdeiros necessários, independente do testamento.

5. Vale a pena consultar um advogado?
Sim, ele ajuda a alinhar o testamento com o divórcio, evitando confusão futura.

Conclusão

O divórcio e o testamento, como vimos com Carla e Marcos ou Juliana e Rafael, se encontram em momentos delicados, como a morte antes da sentença, mudando quem fica com o quê. Exemplos assim mostram que o testamento não altera a partilha viva do divórcio, mas define a herança para filhos como Lucas e Clara ou outros, como Laura e Paulo. O regime de bens e o timing do divórcio moldam esse impacto, e planejar — com um testamento atualizado e ajuda jurídica — evita surpresas. Entender essa relação traz segurança para dividir os bens hoje e proteger o futuro, seja para o ex-cônjuge ou para quem você quer beneficiar amanhã.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *